segunda-feira, 25 de julho de 2011

Não seja o DJ do buzu


DISCOTECAGEM EM ÔNIBUS É ÚLTIMA MODA NOS ÔNIBUS DE SALVADOR; DJS NÃO ACEITAM RECLAMAÇÃO; CÂMARA DE VEREADORES TEM PROJETO DE LEI QUE PROMETE ACABAR COM A PRÁTICA



Rebeca Bastos_Bahia247 - "- Moço, você tem fones de ouvido? – perguntei como quem nada quer. Ele balançou a cabeça em negativo, com o ar mais tranquilo do mundo. Então eu disse, firme, porém educada:- Aí fica difícil, né? É uma questão de educação. - Sim, educação da sua parte – respondeu, com ar de riso. - Justamente por eu ser educada é que te pergunto se você tem fone de ouvido, porque como pessoa educada eu uso os meus fones, e já está no último volume aqui e ainda ouço o barulho do seu celular.- Aí, não posso fazer nada... Ainda resmunguei para as pessoas que a tudo viam e nada faziam: "É por isso que gente como ele faz isso, porque ninguém fala nada". Dando o troco, ele respondeu: - Eu falo a voz do povo! A partir dali, eu nada podia fazer. Alguns olhavam para ele, mas nada diziam. Fiz um grande esforço para abstrair aquele ruído, mas, no intervalo entre uma música e outra, pude ouví-lo dizer: - Vou colocar uma música aqui pra você se desestressar... E aumentou o som novamente, com uma música animada. Não bastasse o deboche, começou a dançar!"

O trecho acima citado é de um texto da analista de mídias sociais, Luciana Ramos, que cansada de ter seu silêncio perturbado em viagens de ônibus resolveu manifestar sua opinião no último dia 04 de julho. Cenas como a relatada são cada vez mais comuns na vida dos cidadãos de bom senso que insistem em habitar em Salvador, a cidade mais barulhenta da América Latina, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2008). E a última moda por aqui agora é descotecar no buzu (ônibus, em bom baianês) com celulares e caixinhas de som portáteis, equipamentos perfeitos para a prática. Nesse caso, no entanto, o gosto do freguês não é levado em conta, o DJ faz a seleção e que se danem os incomodados.

No mundo real a história de Luciana acaba com uma lição de cidadania no homem, isso antes de descer na parada de ônibus dela, para não arriscar ser agredida. No mundo virtual a história repercute, pois a analista de mídias mostrou que aprende muito com seu trabalho e tratou de mandar um e-mail para a sua rede de amigos, que neste momento deve estar sendo espalhando para outras redes. O conteúdo do e-mail também está no http://djnobuzu.tumblr.com/, uma espécie de blog que a moça criou a fim de colher o desabafo de outras pessoas que passam por situações semelhantes.

Em entrevista ao Bahia247, Luciana contou que embora sinta-se indignada com a falta de respeito dos usuários de celulares e caixas de som portáteis esta foi a primeira vez que manifestou sua opinião a um violador do silêncio alheio. O medo de uma possível reação agressiva foi apontado como a principal razão pelo silêncio anterior. "Uma amiga minha que pediu a um rapaz para abaixar o som do celular dela quase apanhou do rapaz, que encostou o celular gritou em seu ouvido.", contou a jovem. E a amiga de Luciana não foi a única a receber uma resposta ríspida ao solicitar silêncio, diversas pessoas já foram solenemente ignoradas ou receberam respostas nada agradáveis.

Talvez por isso as redes sociais estejam saindo como o principal meio de expressão dos indignados, Orkut, Facebook e Twiter têm sido importantes ferramentas para difundir a idéia de campanhas como "Doe um fone" ou "Não seja o DJ do ônibus" que ganharam repercussão nacional, visto que o problema da poluição sonora não é exclusividade de Salvador. Outras cidades do país passam por situações semelhantes e algumas já têm legislação específica para o caso do uso de som alto em transportes coletivos, é caso de São Paulo, São José dos Campos, e Curitiba.

Projeto de Lei- Atualmente a Câmara de Vereadores de Salvador conta com um projeto lei aguardando para ser votado que promete acabar com a farra dos DJs de plantão. É o Projeto de Lei Nº 190 /2011 que proíbe o uso de aparelhos sonoros no interior dos veículos de transporte coletivo público do Município de Salvador.

Enquanto a lei não chega o cidadão pode contar com a ação da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom), que recebe denúncias, mas ressalta que, embora frequente, esta é uma situação nova, que ainda não apresenta denúncia formalizadas. A Sucom diz ainda que fiscalização é dificultada por ocorrer dentro dos coletivos, que são móveis, e que a segurança e o bem estar dos passageiros é de responsabilidade da empresa. Recomenda que o motorista responsável pelo veículoculo seja acionado para que peça a interrupção da atividade sonora, através da utilização de fones de ouvido ou desligamento do aparelho. Caso haja resistência, o condutor pode ainda parar o veículo próximo a um posto policial e solicitar a retirada do infrator do coletivo, pois a situação se configura como perturbação da ordem pública.

Denúncias podem ser feitas ao disque poluição sonora pelo telefone: 71 2201-66

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